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Monday, April 6, 2009

Amarcord



(Amarcord, Itália, 1975)

Frederico Fellini amou o homem em sua integridade: em sua plenitude e também em suas misérias. Em Amarcord, o diretor, que criou o adjetivo felliniano para o cinema, demonstra toda a sua paixão pelo ser humano ao recordar memórias, reais ou fictícias, de sua vila natal, Rimini, na Itália. O título vem do dialeto falado nessa cidade, e traduz-se justamente em “eu me recordo”.

O filme se passa na década de 1930, período marcado pelo fascismo de Mussolini e pelo ufanismo italiano. A Itália buscava uma identidade nacional, uma unificação definitiva de seu território após séculos de disputas. O único meio encontrado pelos italianos foi se render a um governo ditatorial, que impusesse a identidade e o amor à pátria. Assim, Amarcord retrata o fascismo em cenas como a do professor que, sentado atrás da grande mesa no centro da sala, exalta o ditador e a pátria italiana.

Fellini decide produzir um filme com essa temática em 1973, justamente pelo contexto político e econômico em que se achava a Itália. O chamado “parlamentarismo de sabão”, totalmente corrompido, a máfia que dominava a população impondo as próprias regras e a confusão política começam a trazer o sentimento generalizado de que talvez um outro Mussolini pudesse novamente colocar ordem no país.

O diretor busca então relembrar a seus compatriotas as mazelas, o medo, e o ridículo que foi o período fascista. A figura do chefe de Estado em Amarcord é ridicularizada por sua estatura e por suas proezas nada heróicas, como atirar em uma vitrola. Este é o estilo de Fellini, acreditar na força do ridículo como poder revolucionário e desmoralizante, assim como Rabelais acreditava.

Em Amarcord, Frederico Fellini traz personagens tão caricaturais que sequer trocam de roupa ao longo do filme. Titta, o garoto em torno de quem a história da vila gira, nos apresenta a cidade, as pessoas e as situações mais rotineiras e também as mais impressionantes. Sua família, a típica família italiana como a imaginamos, protagoniza a cena mais neo-realista do filme, em que todos se sentam à mesa para comer. Na escola, os professores são feitos de bobos por ele e seus colegas. Assim também acontece no momento da confissão na Igreja. Eventos e rituais que marcam a vida de Rimini ao longo do ano que a podemos acompanhar em Amarcord.

Amarcord, eu me recordo, traduz uma das principais idéias do diretor Frederico Fellini. Para ele “quem não tem memória, não cria”. E assim ele utiliza seu passado romântico como matéria prima para situações que, como defendia, não foram exatamente vividas por ele, mas poderiam ter sido.

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